Sobrepeso e obesidade: atuação psicológica e os desafios desta demanda

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1 de março de 2022

“Ele come demais! Como lidar com meu filho?” Você já escutou alguma pessoa verbalizar esta frase alguma vez? Vamos refletir sobre esta problemática do comer demais? Trarei pontuações acerca do sobrepeso e obesidade, além da prática profissional e os desafios com esta demanda!

Quando nos deparamos com famílias buscando ajuda para entender melhor o motivo de o filho ainda criança comer demais, é importante levar em consideração diversos fatores, eles estão interligados com características que nos fazem compreender o momento em que a criança se encontra. A partir do momento em que vejo uma criança com sobrepeso, já considero importante uma orientação por parte dos profissionais da pediatria, indicando a criança para um nutricionista. Junto com a família, é importante observar como anda a construção da rotina alimentar e seguir com recomendações. Muitas vezes também se faz necessária a avaliação de um endocrinologista pediátrico, que poderá olhar melhor as taxas metabólicas e os exames de sangue.

Até aqui estamos refletindo que a questão do sobrepeso traz aspectos orgânicos, mas também precisamos levar em consideração as causas genéticas, sociais, culturais, funcionamento da família e as emoções nesta construção do comer, do estar acima ou abaixo do peso.

Existe todo um contexto orgânico acerca do estar acima do peso, sendo necessário observar os exames, assim como as orientações nutricionais, e, muitas vezes, se faz necessário a inserção do profissional da psicologia no conjunto.

Por qual motivo precisamos de um olhar do psicólogo para entender que uma criança, que será futuro adolescente e adulto, está comendo bastante? É importante entender que somos seres de vínculos, nosso primeiro alimento é o leite, nosso primeiro laço é com alguém que exerce a função de mãe e pai, e nisso tudo acontece o amadurecimento do bebê em sua relação com o mundo interno e externo.

Muitas vezes, o ser humano come para aliviar uma emoção, sentimentos de tristeza, alegria, por estar sozinho, por não lidar com a presença intensa ou ausência de alguém. Ou seja, comida é afeto, comida alimenta nossas emoções, traz memórias, fala de um funcionamento familiar, cultural e socialização.

Nesta reflexão, quero alertar a população para ficar atenta às causas da obesidade, uma doença crônica, de causas multifatoriais, que já representa uma gravidade maior com relação ao sobrepeso. O Relatório Global de 2021, produzido por agências da Organização das Nações Unidas (ONU), responsável por avaliar o impacto global da pandemia, aponta que, em 2020, mais de 2,3 bilhões de pessoas (30% da população mundial) não tiveram acesso à alimentação saudável, sendo este um dos fatores mais importantes para a prevenção da obesidade infantil e doenças associadas.

O IMC (Índice de Massa Corpórea) considerado normal tem o parâmetro no adulto 18,5 e 24,9. Os demais índices representam três graus para leitura do peso. Obesidade grau 1 (30 a 34,9); obesidade grau II (35 a 39,9); obesidade grau III (acima de 40). Como medir? Basta dividir o peso pela altura ao quadrado. Já existe site que ajuda e você pode ver com o médico que faz seu acompanhamento.

Atualmente vivemos uma realidade que preocupa, mas é preciso que cada vez mais a população tenha acesso a informação, atendimento multidisciplinar (pediatra, nutricionista, endocrinologista, psicólogo e outras especialidades), bem como tratamento adequado para cada cenário e individualidade do paciente. O desafio é trabalhar com a prevenção da obesidade desde a infância, mas também sempre aprimorar tratamentos pensando no universo da adolescência e mundo adulto. A equipe multidisciplinar é fundamental para o controle da obesidade.

Sou psicóloga e atualmente no trabalho com a infância e adolescência percebe-se a importância de um olhar precoce na prevenção da obesidade visto que é uma doença multifatorial. É fundamental um olhar integrado e humanizado, bem como estratégias de intervenções que envolvem métodos conservadores e outras indicações como, por exemplo, cirurgia bariátrica a partir dos 16 anos quando bem indicada e com monitoramento contínuo.

Por isso, se você é pai ou mãe, pense na prevenção da saúde do seu filho ainda criança. Com relação à adolescência é uma fase propícia de mudanças corporais e podem aparecer questões de peso, sendo importante ver possibilidades de intervenção. E se você está lendo este texto e conhece alguém que vive na busca de tratar a obesidade que tem suas consequências, oriente a buscar profissionais adequados para cada faixa etária: trabalhar a parte metabólica, a rede de apoio, possíveis usos medicamentosos de forma adequada. Nisso tudo lembre-se que os cuidados psicológicos e nutricionais precisam adentrar cada vez mais para compreender a relação com emoções, alimentação, vínculos, permitindo um equilíbrio na saúde do corpo e da mente.

Reforço também que a população precisa desmistificar cada vez mais o papel do psicólogo, ele pode atuar nas mais diversas áreas! A pandemia deixou clara a necessidade do cuidado com a saúde mental e, relacionando isso ao aumento de peso, foi em torno de 5,6 quilos ao ano, dado alarmante para entender que estamos diante de uma epidemia sendo necessárias estratégias inclusive na área da psicologia.

Texto: Gabriela Catarino (CRP 02/15.251) – Psicóloga Clínica

Instagram: @gabrielacatarinopsi

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