Luto: processo tão único quanto uma impressão digital

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Ao se cortar, leva-se certo tempo para que a cicatrização aconteça, se assim não fosse, a ferida ficaria para sempre aberta. Geralmente no processo de cicatrização, o ferido deve realizar ações cur(ativas), e no processo de luto não é diferente. É importante que o enlutado, antes de qualquer coisa, possua consciência da perda, acolha sua própria dor, tenha respeito sobre o tempo necessário e singular, tendo em vista que o processo de luto é único para cada enlutado, não havendo tempo cronológico mas, sim, um tempo próprio. É imprescindível pontuar que, não há padrão para vivenciar o luto, mas é necessário que ele seja vivenciado.

O luto se refere a todo processo de elaboração de perda significativa que o ser humano sofre ao longo da vida. Rupturas que não se referem apenas à morte de alguém querido, mas a términos de relacionamento, perda de emprego, mudanças no ciclo vital, perda de controle, ou da liberdade vivida, como a que todos foram submetidos durante a pandemia. O luto está relacionado tanto à perdas reversíveis quanto irreversíveis, e não é um processo opcional, mas sim natural.

Existe um padrão para vivenciar o luto? ’Não’, visto que se trata de um processo singular, porém, algumas reações são comuns e esperadas quando o enlutado está vivenciando o processo de forma normal ou descomplicada, sendo elas: alterações de apetite e de sono, agressividade e, por um certo tempo, até a inabilidade para desempenhar funções da mesma forma que anteriormente à perda, assim como alguns sentimentos de raiva, culpa, tristeza, ansiedade, solidão, fadiga, desamparo, choque, saudade e etc.

Diferente do que muitos acham, o luto não diz respeito à uma doença, mas pode ser vivenciado de forma complicada, trazendo riscos de adoecimento psíquico e até físico, sempre que:

• O enlutado não consegue falar ou pensar em outro assunto a não ser no que ou quem se foi perdido, mesmo após um tempo significativo;
• Há extrema dificuldade de aceitar e tomar consciência da perda, negando-a, a ponto de ocupar-se demasiadamente para não vivenciar o luto;
• O enlutado apresenta tristeza profunda e duradoura, que o leva a diminuir o contato com as pessoas, bem como a isolar-se;
• Estado de humor permanentemente alterado;
• Ideação suicida e comportamentos autodestrutivos, entre outras reações.

A vivência de cada processo de luto é singular, as reações apontadas acima não são uma regra, nem possuem uma ordem, sendo a intensidade com que elas se apresentam algo a ser observado, visto que em longo prazo, quando em uma vivência de luto complicado, não há sinais de evolução ou melhora ao longo do tempo, levando grandes prejuízos à saúde mental.

Por isso, é extremamente importante que diante de uma perda, seja ela qual for, não se tente fugir dos sentimentos decorrentes dela, o que não é algo fácil, visto que alguns sentimentos como raiva, tristeza e medo, tendem a ser evitados ao longo da existência, porém, são sentimentos que quando acolhidos, possibilitam a reorganização, o investimento no que existe para além da perda, e a construção de um novo sentido para a vida sem a pessoa ou relação que se foi perdida.

Se o enlutado, ou sua rede de apoio, percebe dificuldade na forma com que tem lidado com a perda, se ela aconteceu de forma trágica ou repentina, nesses casos a psicoterapia é indicada, por ter como objetivo possibilitar ao sujeito a expressão de seus sentimentos; bem como a facilitação no processo de readaptação da vida, apesar do que se foi perdido, mas, para que tudo isso aconteça, é necessário que se tenha um olhar compreensível para com a dor. Afinal, é preciso viver o luto, para não viver a vida inteira de luto.

Colunista do Mês: Joyce Mayara – Psicóloga Clínica – CRP: 02/22840

Instagram: @joycemayara.psicologa

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