Uma análise psicológica sobre o Linchamento Virtual

Esse novo caso da jovem que cometeu suicídio após ser deixada no altar e linchada na internet por ter realizado o casamento “com ela mesma”, me chamou atenção para buscar ler e entender melhor o que leva o ser humano a ter comportamentos como este de linchamento virtual. As pessoas comentaram que ela estava querendo chamar atenção e ganhar likes com a atitude de fazer esse casamento. A jovem já sofria de depressão e ansiedade e pelo que vi, utilizava o Instagram como uma forma de fuga das dificuldades e apoio emocional.

A palavra linchamento significa “assassinato de um criminoso cometido pela multidão. Ato ou efeito de linchar, de agir violentamente contra alguém”. Ou seja, está relacionado com o incontrolável desejo de realizar justiça com as próprias mãos. Uma pessoa se posiciona e todos os que pensam iguais a ela se juntam para “crucificar”. As informações logo se propagam pelos meios virtuais e o linchamento toma uma proporção gigante rapidamente. Essas mensagens hostis podem gerar danos à vítima, de ordem afetiva, psicológica ou física, provocando diversas formas de adoecimento e até a morte.

Mas o que poderia levar o ser humano a ter esses comportamentos? A agressividade é inerente ao ser humano e necessária para auto conservação e conservação da espécie. Está relacionada com a ação, pois possibilita posicionamentos de iniciativa, coragem e tomada decisão. Tem como função defesa diante dos perigos enfrentados e dos ataques recebidos.

E o que acontece no linchamento virtual? A agressividade que é algo positivo, é utilizada de forma negativa gerando comportamentos agressivos. Existem comportamentos agressivos encobertos ou explícitos, diretos ou indiretos, físico ou verbal, psicológico ou relacional. Podemos dividi-los em dois tipos principais a partir de suas causas:

• Agressão hostil: É impulsiva, tem finalidade de fazer o mal e possui uma forte carga emocional.
• Agressão Instrumental ou Predadora: É premeditada e fria, não tem como objetivo fazer o mal. Tem como objetivo conseguir algo independente do dano que pode causar. É planejada, seja por vingança, busca de poder ou dinheiro.

Freud em seu livro “Psicologia das massas e análise do eu” comenta que o ser humano quando está em grupo pode ter comportamentos que individualmente ele nunca teria. Esse ponto faz com que a gente compreenda que as pessoas que praticam linchamento virtual tendem a ter comportamentos diferentes dos individuais por estarem em massa. Várias pessoas que possuem um mesmo pensamento sobre algo, se comportam de uma forma que nunca se comportariam sozinhas.

Além disso, a internet é um ambiente igualitário, neutro, onde possui todos os tipos de usuários. Muitas dessas pessoas sentem-se acomodadas e protegidas se escondendo atrás de um perfil fake, disseminando o ódio. Ao cometer essa maldade, os indivíduos esquecem que por trás das telas existe uma pessoa real. Escrever essas palavras no celular ou computador é muito diferente do que falar para a pessoa olhando no olho.

Em resumo, a agressividade inerente ao ser humano utilizada de forma negativa junto com a tendência que o indivíduo possui em ter comportamentos em massa diferentes dos comportamentos individuais, mais a imaginação de anonimato da internet e a distância que existe entre o agressor e a vítima, faz com que a gente compreenda alguns dos motivos que levam as pessoas a cometerem linchamento virtual.

Temos um problema e através desse texto conseguimos entender a causa, porém, também acho fundamental refletir sobre possíveis soluções. Primeiramente imagino a internet sendo utilizada de forma positiva. É um ambiente tão rico, de tantas possibilidades e podemos ensinar os nossos jovens a utiliza-la de maneira produtiva. A internet pode ajudar a buscar conhecimento sobre inúmeras coisas, a conseguir um emprego, a empreender, a fazer o nome na área desejada, entre outros.

Em relação à agressividade, como dito anteriormente, faz parte do ser humano. É importante buscar formas saudáveis de colocar essa agressividade para fora. Seja através de um esporte/atividade física, psicoterapia, jogos de tabuleiro ou online, assistindo filmes, séries, futebol ou lutas. Enfim, existem várias formas de expor essa agressividade de maneira saudável.

Após toda essa reflexão me sinto cada vez mais motivada a estudar e compreender o comportamento humano, com o objetivo de ajudar e dar apoio à sociedade, sendo essa uma forma de me manter satisfeita e realizada profissionalmente.

Texto: Eduarda Ferrari (CRP: 02/17.312) – Psicóloga Clínica e Orientadora Profissional